Importância da umidificação:

  1. O ar de uso medicinal, oxigênio e óxido nitroso que são supridos pelas linhas de transporte ou pelos cilindros são gases secos. Estão armazenados assim para manter a proteção da corrosão, condensação e congelamento dos cilindros, linhas e válvulas, etc;
  2. O trato respiratório superior age normalmente como aquecedor e trocador de gases (ATG), aumentando a umidade relativa do ar inspirado para até 100% a 37°C. Este trato pode ser substituído pelo tubo traqueal ou por traqueostomia, perdendo a função ATG.

Atmosfera da sala de operações:

a. Sempre com ar condicionado, deve ser mantida a uma taxa de umidade relativa segura, entre 50 e 70%;

b. Alta umidade torna o ar atmosférico pesado para a equipe hospitalar;

c. Baixa umidade pode aumentar o risco de explosão devido à eletricidade estática.

Conseqüências da Umidificação Abaixo da Normal:

a. Perda de água pelo paciente durante a fase expiratória;

b. Gases secos fazem com que a mucosa traqueal fique igualmente seca, inflamada e ulcerada, sendo que os movimentos, ciliar e do muco podem cessar e a complacência pulmonar pode diminuir.

Tipos de Umidificadores – justificativa:

  1. Umidificadores de água aquecida – provocam maior condensação no circuito reservatório constituindo fonte de proliferação bacteriana, risco de intoxicação pela água, maior freqüência de problemas de mau funcionamento, risco de esfriamento ou aquecimento da mucosa, custos elevados e implicam em maior tempo de trabalho de enfermagem
  2. Permutadores de calor (HMEs – Heat and Moisture Exchanger) – apresentam vantagens superponíveis aos umidificadores de água aquecida e atualmente são os mais comumente utilizados em anestesia e terapia intensiva, porém podem causar aumento do espaço morto e resistência ao fluxo de gases principalmente se apresentar contaminação macroscópica com secreções ou sangue.
  3. Os dispositivos HMEs assim como o circuito respiratório devem ser substituídos a cada paciente ou a cada 48 horas de uso em um mesmo paciente ou sempre que estejam visivelmente conspurcados.

Tipos de HMEs:

O HME tem como proposta conservar o calor e a umidade do paciente, além de possível barreira bacteriológica.

São classificados em três tipos: condensador, higroscópico e hidrofóbico.

a. Condensação – apresenta uma mecha nas vias dos gases respiratórios e tem a desvantagem em comparação com o hidrofóbico e higroscópico de não possuir barreira microbiológica;

b. Hidrofóbico – possui elemento de cerâmica de fibra e barreira microbiológica;

c. Higroscópico – mais eficiente, pois uma grande quantidade de vapor de água expirado é absorvida por este elemento que pode ser: coador de papel com cloreto de cálcio, fibra de vidro ou polipropileno coado com cloreto de lítio.

Conclusão:

O uso rotineiro de HMEs promove:

a) Redução da instalação e proliferação bacteriana no circuito respiratório e no aparelho de anestesia com probabilidade de menor incidência de infecção hospitalar;

b) Menor risco de esfriamento da mucosa e suas conseqüências: processo inflamatório, queda do movimento ciliar e do muco e redução da complacência pulmonar.

c) Menor custo total da anestesia, em longo prazo (manutenção do sistema ventilatório de anestesia).

Recomendação da CNTSA:

Embora não exista norma ou resolução específica do CFM (Conselho Federal de Medicina) pertinente ao assunto, CONSIDERANDO que o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional; a CNTSA recomenda:

· Filtros HMEs devem ser sempre utilizados se o paciente estiver em ventilação assistida ou controlada durante anestesia.

· Filtros HME devem ser sempre utilizados se o paciente for conectado a sistemas respiratórios não-descartáveis, mesmo que higienizados adequadamente, segundo normas da ANVISA

· No caso do uso de sistemas ventilatórios esterilizados e descartáveis, ainda sim os filtros HME devem ser interpostos, devido a sua capacidade de umidificação, aquecimento e “barreira” bacteriana entre o paciente e elementos do aparelho de anestesia, principalmente caníster e absorvedores de CO2, passíveis de contaminação

· Seguindo as recomendações da Association of Perioperative Registered Nurses (AORN - www.aorn.org ), o uso de filtros HME individualmente, por paciente, reduz os custos de esterilização dos elementos permanentes do aparelho de anestesia, já que estes podem ser trocados semanalmente, salvo se utilizados em pacientes previamente infectados

Referências:

01. Burton, JDK – The effects of dry anaesthetic gases on the respiratory mucous membrane. Lancet, 1962; 235-38.

02. Hedley, RM; Allt-Graham, J – Heat and Moisture Exchangers and breathing filters (review article). British Journal of Anaesthesia, 1994; 73: 227-36.

03. Moyle, JTB; Davey, A; Ward. Umidificadores e nebulizadores, em: Equipamentos em Anestesia de Ward. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000; 281-87.

04.Turnbull, D. 1,*; Fisher, P. C. 2; Mills, G. H. 1; Morgan-Hughes, N. J. 3 Performance of breathing filters under wet conditions: a laboratory evaluation+. BJA: British Journal of Anaesthesia. 94(5):675-682, May 2005

05.Wilkes, A. R. The moisture-conserving performance of breathing system filters in use with simulated circle anaesthesia breathing systems*. Anaesthesia. 59(3):271-277, March 2004.

06.Lawes, E. G. Hidden hazards and dangers associated with the use of HME/filters in breathing circuits. Their effect on toxic metabolite production, pulse oximetry and airway resistance. BJA: British Journal of Anaesthesia. 91(2):249-264, August 2003.

07.Wilkes, Antony R. BSc MSc Breathing system filters. BJA CEPD Reviews. 2(5):151-154, October 2002.

08.Atkinson, M. C. 1; Girgis, Y. 2; Broome, I. J. 3 Extent and practicalities of filter use in anaesthetic breathing circuits and attitudes towards their use: a postal survey of UK hospitals. Anaesthesia. 54(1):37-41, January 1999.

Atenciosamente

Dr. Carlos Rogério Degrandi Oliveira
Dr. Márcio Augusto Lacerda
Dr. Neuber Martins Fonseca
Dr. Oscar César Pires

Comissão de Normas Técnicas e Segurança em Anestesiologia (CNTSA)

Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA)
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